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Quero enxergar o mundo de frente!

 


Colegas. Todos sabem de minhas atuações junto às pessoas com deficiência graves. Muitas vezes estive de mãos amarradas como quando fui chamado a uma Casa Lar de Cegos Idosos para conhecer mulher de 40 anos que acabara de ficar totalmente surdocega em decorrência de complicações renais. Ela estava na cama. Tentei me comunicar com ela escrevendo as letras na palma de sua mão. Ao escrever o nome dela compreendeu e repetiu corretamente. Ao escrever o meu nome, Alex, ela disse: - Rafael! Rafael? Passei um dia com ela e parecia não compreender a comunicação que estava tentando desenvolver. Então descobri que ela era analfabeta. Claro, não compreendia o sistema de comunicação que eu estava tentando. E o Rafael? Rafael é o nome do filho dela que tanto amava. E que ela não pode mais enxergar, escutar, tocar, abraçar, mas ela sabia que Rafael existia. Infelizmente, quando fui colocar em prática outra forma de comunicação e estruturar o meio em que estava, ela partiu. Acabo de fazer esta introdução para entrar no caso de “Br” o “pequeno” homem que conheci na cidade de Mariana – MG, em 2012 e que “enxerga o mundo de costas”. Ele tem 23 anos. Filho de mãe com deficiência intelectual e pai ignorado. A mãe de “Br” foi criada por um casal que a expulsou de casa logo que ele nasceu. No primeiro momento a mesma não aceitou entregar o bebê para adoção e voltou a viver com sua mãe biológica que também era pessoa com deficiência. Devido à deficiência intelectual da mãe de “Br”, o mesmo passou a sofrer constantes maus tratos, pois sua mãe perambulava pelas ruas com colocando-o muitas vezes em situação de risco: jogava-o no chão; batia em seu rosto com chinelo e outras situações violentas para demonstrar às pessoas que sabia fazê-lo “chorar”. Assim já nos primeiros meses de vida “Br” foi adotado pela família que até hoje cuida dele. Durante os primeiros meses de vida houve várias intervenções medicas e as primeiras diferenças no desenvolvimento de “Br” já se fizeram notar. Em 1.991, “Br” passou a freqüentar a Comunidade da Figueira em Mariana - MG. Apresenta diagnóstico de Paralisia Cerebral com severas deformidades na coluna vertebral o que dificulta seu posicionamento na cadeira de rodas. Ele muda constantemente e sozinho sua posição na cadeira virando-se abruptamente com risco de se machucar. Demonstra membros superiores fortes e membros inferiores atrofiados. Não fala e não atende a comandos verbais, porém atualmente vem sutilmente revelando discreta interação com as pessoas através do riso. Não gosta de ser tocado, nem de ouvir sons altos, apresenta comportamento de autoflagelação desde pequeno. É incontinente. Quando conheci “Br” observei de imediato que ele está de costas para o mundo, ou seja, pelas deformidades na coluna está impossibilitado de sentar adequadamente necessitando de cadeira de rodas adaptada a ele. Verdadeiramente me comovi com a situação de “Br” e decidi junto com a direção e profissionais da Comunidade da Figueira mover esforços e solicitar apoio de empresas, especialista e autoridades na área para que “Br” possa, quem sabe, ter cadeira especial. Uma cadeira de rodas adaptada a realidade e necessidade de “Br” com certeza pode trazer maior conforto e amenizar a evolução prognostica do quadro em que se encontra. Sei que não tenho "mango mágico" para mudar o mundo, mas também sei que fui "talhado" na adversidade e em pé enfrentei duras tempestades, assim, contando com a sensibilidade e generosidade de todos, esperamos poder colaborar para que "Br" possa enxergar o mundo de frente. A Coordenadora da Comunidade da Figueira, Neuza Elena, está à disposição no e-mail comunidade.figueira@yahoo.com.br . Saúde e Paz a todos e todas.


Alex García


Pessoa Surdocega.